Tempo pro Mano
Taí um dos maiores dilemas da história da humanidade. Uma daquelas questões sobre as quais os filósofos das mesas redondas elaboram teorias mirabolantes, que terminam em discussões sem fim.
Tudo isso como se uma coisa excluísse a outra.
Ora, o Santos não ganhou a Libertadores jogando bonito? Não fez gol com drible, passe de letra e o escambal? O Peñarol não jogava feio, “pra ganhar”, e perdeu mesmo assim? Pois então.
Já está bom de pararmos de pautar o tema “seleção brasileira” em torno dessa antítese maluca. Nem uma coisa nem outra. Nem os jogadores brasileiros precisam ser malabaristas sem objetividade, nem o fato de Robinho passar um jogo sem pedalar quer dizer que o time tem um técnico malvado, querendo destruir a escola do futebol-arte-Jedi para implementar a terrível filosofia do futebol cabeça-de-bagre.
É perfeitamente possível o Brasil fazer o que fez o Santos. Até porque tem Ganso e Neymar.
Sim, é verdade: contra a Venezuela, nem ganhamos nem jogamos bonito. Mas pera lá. Isso é suficiente para julgar o trabalho do Mano? Eu acho que não.
Toda estreia de seleção é difícil, e a Copa do Mundo provou isso. Além do mais, a Venezuela tem onze jogadores e, no futebol, se perde, se ganha e se empata.
Já tem gente achando que Neymar “não é tudo isso”, que Mano “é o novo Dunga”, ou que essa geração de jogadores é fraca. As três visões estão longe de serem corretas.
A geração de jogadores que temos é fantástica, e encontra par em poucos outros países do mundo. Neymar é um jogador sensacional, e Pato meteu uma paulada na trave que, se entrasse, poderia muito bem abrir a porteira venezuelana.
Além disso, a seleção fez um bom primeiro tempo, onde tocou muito bem a bola e aproveitou de maneira inteligente os espaços da frágil defesa que enfrentava.
O que me parece claro é que o time não tinha muito padrão, e vinha mal entrosado. Coisa que se escancarou no segundo tempo, quando o relógio começou a correr.
Mas a questão é: temos que dar tempo ao Mano. Copa América, definitivamente, não é uma questão de prioridade para o cara. Volto a dizer: temos um ótimo time, que só precisa de tempo para engrenar.
O problema é enxergar isso. Existe um fanatismo clubístico que nos impede de ver a seleção brasileira de uma forma normal. Sim: fanatismo clubístico.
Como o amor ao clube supera, de longe, o amor à amarelinha, queremos que o nosso time ganhe a todo custo, nem que seja quebrando a perna do camisa 10 adversário. Isso se intensifica em períodos em que perdemos nossos maiores craques para a Europa.
Já a seleção, não. Como é lá que tão os caras que foram para a Europa, e como ninguém vai te sacanear no dia seguinte a uma derrota, todo mundo quer que seja a antítese do clube: um circo ambulante, uma espécie de Globe Trotters de amarelo, onde todo mundo dá show.
Quando a coisa não sai como esperado, naturalmente, a culpa é do técnico, que é retranqueiro. Foi assim com Dunga, foi assim com Mano. Mas Mano não é Dunga, e precisa de mais tempo. Tempo para ouvir algumas críticas mais inteligentes, como, por exemplo, que empresário não é critério, e Arouca é bem melhor que Lucas – como Daniel Alves improvisado é melhor que André Santos. Ou, então, que o 4-4-3 corintiano não é a melhor aposta para quem tem Neymar e Pato.
Isto posto, vamos esperar o resto da competição antes de crucificar alguém.