O último reduto da homofobia
Jogo do São Paulo, contra o Corinthians, no dia da Parada Gay. Prato cheio para o habitual show de homofobia que, infelizmente, já se tornou parte da cultura futebolística brasileira.
E é sobre isso que eu quero falar hoje: homofobia. Um tema extremamente espinhoso, bem sei. Porém, também, extremamente importante.
Nesse mundo do futebol, onde jogadores homossexuais são perseguidos, e equipes são depreciativamente chamadas de “time de gay”, já passou da hora de revermos alguns conceitos.
Vamos lá: em primeiro lugar, não sou a favor da Parada Gay. Não da forma como ela existe hoje: absolutamente despolitizada, a serviço apenas da indústria do turismo e conivente com um esteriótipo esdrúxulo de homossexualidade. Essa é, também, a opinião de vários homossexuais que conheço.
Isso é uma coisa.
Por outro lado, sou ainda mais contra as críticas homofóbicas, estilo-Bolsonaro, que geralmente são tecidas ao evento.
É muito simples: ninguém deve ter o direito de legislar sobre a liberdade do outro. Logo, condenar alguém por uma prática sexual é crime, e deve ser tratado como tal.
Então, dizer que o São Paulo perdeu o jogo porque é um “time de bambi” é crime? Claro! Isso significa dizer que todos os homossexuais são piores. Significa rotular um ser humano por uma coisa que diz respeito apenas a ele. Troquemos “bambi” por “macaco”. Não seria crime de racismo? Pois então.
Não, não sou a favor de prender todo mundo que chamar um são-paulino de “bambi”. Poucas horas antes do Majestoso começar, os assuntos mais comentados do tuíter eram “bambis” e “vaipracimadelAstimao”. Temos que ter bom senso.
Mas aí é que está a questão: vamos ficar calados vendo a sociedade ser opressora, ou vamos dizer a ela que homofobia é crime? Quanto tempo vai demorar para a imprensa dar alguma relevância ao assunto?
Toda santa rodada, temos que aturar um show de preconceito nos estádios, muitas vezes com a conivência da mídia. O jogador adversário é “viado”, o juiz é “boiola”, o são-paulino é “afeminado”. As arenas se convertem em um lugar onde neandertais podem, abertamente, converter suas insatisfações pessoais em manifestações explícitas de ódio.
A Torcida Independente do São Paulo, por exemplo, não cantava o nome de Richarlyson. A diretoria do clube chegou ao cúmulo de mandá-lo a público para desmentir o boato, como se o volante fosse o primeiro jogador do mundo a gostar de pessoas do mesmo sexo. Houve até um juiz que disse que futebol é um “esporte varonil”.
E eu pergunto: tudo isso é medo de sair do armário?
Eu, agora falando como São-Paulino fanático, gostaria mesmo era que o clube fizesse como o Vôlei Futuro, e entrasse em campo com uma camisa colorida, de preferência com dizeres contra a homofobia.
Já passou da hora de alguém tomar essa iniciativa. Ou isso, ou vamos excluir do nosso amado esporte uma fatia considerável da humanidade, o que seria um absurdo.