Pelo fim dos estaduais
Acabaram-se os campeonatos estaduais.
Tudo bem, a festa foi bonita e tal.
Mas agora, passada a euforia, será que não vale a pena pensar se tudo isso valeu, de fato, à pena?
Eu, por exemplo, diria que não valeu.
Só pra começar, em termos de público, do Oiapoque ao Chuí, o começo de ano foi um fracasso total.
A média de expectadores do campeonato paulista, por exemplo, foi de 5.882 pagantes por partida.
“Mais do que em 2010”, dirá o presidente da FPF, que acha que o Paulistão merece nota 8, se esquecendo que, nos anos de 2008 e 2009, o torneio teve, respectivamente, 6.034 e 6.651 pagantes por jogo.
Mas pera aí: quer dizer, então, que quando era por pontos corridos, mais gente ia pro estádio? Sim, pois não!
E aí fica fácil perceber porque, do ano passado pra cá, a média de espectadores inchou: foi só aumentar o número de jogos decisivos (eram 3, hoje são 7).
Claro: a torcida do bi-campeão Santos, que não gosta de sair de casa, tem muito a ver com isso. Mas tem mais caroço nesse angu.
Seja qual for a fórmula, o paulistinha será sempre uma piada, por um motivo muito simples: são apenas 4 times grandes, no meio de uma muvuca de 190 jogos. Afora os 7 clássicos e uma ou outra excessão, as partidas não têm graça nenhuma.
Quer dizer, então, que a culpa é dos times pequenos? De forma alguma! Times sem torcida, como o Ituano ou o Taboão da Serra, também se prejudicam com a burrice da Federação Paulista. Isso porque, mesmo nos jogos contra os times grandes, esses times não superam a média de 5.000 seres humanos na arquibancada e, em paralelo, as pequenas rivalidades deixam de existir, à medida em que o Guarani disputa a Série B e a Ponte Preta, a Série A.
E é assim no país todo, quando não é pior.
O campeonato potiguar, por exemplo, quase não começou por um motivo muito prático: era muito gasto pra pouca receita.
E eu me pergunto até quando vai ser assim.
Os grandes só perdem com os estaduais. Não faz sentido um clube do tamanho do Corinthians passar 4 meses jogando para 5.000 pessoas.
Da mesma forma, os pequenos não podem continuar do jeito que estão, excluídos dos momentos decisivos do campeonato. Torneio do interior? Faça me um favor!
E, claro: é muito fácil bater nisso tudo. Difícil é propor algo melhor. Mas eu chego lá:
Defendo, sem medo de me arrepender, a volta dos torneios regionais, tipo Rio-São Paulo, Sul Minas, Taça Nordeste, etc.
Com eles, o futebol do Amazonas não deixa de existir, nem os grandes do Sul Maravilha passam um terço do ano na pasmaceira.
Os clubes do Nordeste, por exemplo, se ajudariam, jogando entre si, teriam campeonatos com mais jogos interessantes, levariam mais gente ao estádio e arrecadariam mais.
O mesmo aconteceria em outros Estados.
Os menores? Bem, o Botafogo de Ribeirão, por exemplo, jogaria uma segunda divisão do Rio-São Paulo, onde, provavelmente, enfrentaria seu rival local, o Comercial. Mais ou menos como na Argentina. Lá, futebol de bairro vale tanto quanto a Série A.
O problema é que nada disso interessa aos chefes das grandes federações, preocupados que estão em engordar sua própria entidade e, por conseguinte, seu próprio bolso.
É por isso, aliás, que João Paulo de Jesus Lopes disse pelo menos uma coisa decente, em sua carreira enquanto cartola do São Paulo: “a FPF existe para tirar dinheiro dos clubes pequenos”.
Tem razão, mas eu vou mais além: dos pequenos, e dos grandes também.