As chuteiras abertas da América Latina: Manya de grandeza
Antes de tudo, é importante deixar duas coisas muito claras.
Primeiro: o conteúdo desse texto não é recomendado para colorados.
Segundo: não, caro leitor, o título do post não foi escrito em espanhol.
Explico-me: “Manya” é um dos nomes pelos quais é conhecido o Club Atlético Peñarol de Montevideo. E “Peñarol” é o nome de um dos maiores clubes do mundo.
Um clube que tem uma torcida apaixonada. Um clube penta-campeão continental. Um clube cujo time titular ganhou a Copa do Mundo duas vezes.
Calma, eu não estou delirando.
É que a péssima cobertura que a imprensa brasileira faz do futebol sul-americano, aliada à draga financeira em que o Peñarol se enfiou nos anos 80, faz a camisa “carbonera” ser praticamente desconhecida em terras verde-amarelas.
E essa foi uma das coisas que matou o Inter.
Dito isso, é importante lembrar que, sim: o Peñarol foi bi-campeão mundial de seleções.
O Uruguai da década de 50, protagonista do Maracanazzo, era, praticamente, o time do Peña. Talvez não “do goleiro ao ponta-esquerda”, mas o craque Obdulio Varela, “El Bailarino” Schiaffino e “El Carrasco” Alcides Ghiggia eram titulares de ambas as equipes e, os três, bastaram pra calar 200 mil brasileiros na final da Copa de 50.
E tem mais: na época em que a final da Libertadores era decidida em três jogos, o Manya bateu de igual pra igual com nada mais, nada menos, do que o Santos de Pelé, o que inclui um dos jogos mais eletrizantes da história, no qual o atacante Pepe Sasia fez um gol de cabeça depois de jogar areia na cara do goleiro Gilmar.
Quer mais? Vê só: depois dos anos dourados, os carboneros ainda faturaram duas Libertadores, sendo uma no último minuto e outra no último segundo.
Em outras palavras: “copeiro” é pouco.
E, atualmente, apesar de batida, não há metáfora melhor do que a da fênix: o clube está renascendo das cinzas.
Essa quinta-feira, no Beira-Rio lotado, o Manya deixou bem claro que quer voltar a existir. E isso é contagiante.
Hoje, o técnico do time atende pelo nome de Diego Aguire “La Fiera”, o mesmo cara que fez o tal “gol no último segundo”, que deu aos uruguaios a Liberta de 87.
Não obstante, os carboneros têm Olivera e Martinuccio – dois ótimos atacantes, que podem ser destaques dessa edição do torneio .
Mais do que isso tudo, porém, no quesito “tradição continental”, o Peñarol ganha de qualquer outro clube das Américas, exceto o Independiente, que caiu na fase de grupos.
Resumindo: melhor momento, impossível. A torcida, aliás, já percebeu e estreou, no estádio Centenario, o maior bandeirão do mundo, segundo estatísticas não-oficiais.
E é por isso que eu recomendo: olho vivo.
Com certas coisas não se brinca, e a camisa do Peñarol é uma delas.
Aliás, com a do Santos também não, muito menos com Neymar e cia.
Imagina, então, se os dois times fazem a final?
Aí, garanto pra você: Nélson Rodrigues era capaz de ressucitar.
* Todos os sábados, nesse mesmo espaço, Gabriel dos Santos Lima assina a coluna “As chuteiras abertas da América Latina”, onde fala do futebol do continente.