As chuteiras abertas da América Latina: Um rei sem coroa
Quase todos nós, brasileiros, temos medo de trombar com Boca Juniors ou River Plate em um mata-mata de Libertadores.
Por outro lado, poucos de nós sabem, por exemplo, que o River ganhou apenas duas edições do torneio, sendo, ambas, em cima do América de Cali – o time mais pipoqueiro do continente.
Do mesmo modo, grande parte dos que sofrem de Bombonerofobia não sabe que o time mais copeiro das Américas não é o Boca, mas sim um clube do pequeno município de Avellaneda.
O nome desse clube é Clúb Atlético Independiente, o verdadeiro Rey de Copas. Pronunciar esse nome na década de 70 significava deixar qualquer torcedor latino-americano arrepiado.
Isso porque, naquela época, El Rojo contava com um ataque legendário, comandado pelo craque El Bocha Bochini, seu maior ídolo. Para se ter uma ideia, até hoje, na Argentina, quando algum jogador dá um passe genial, diz-se que deu uma “bochinesa”.
E foi esse ataque que, a quarenta anos atrás, conquistou o continente quatro vezes seguidas, derrubando adversários de respeito, como o São Paulo de Pedro Rocha.
Não é a toa, portanto, que o torcedor do Independiente é uma figura única.
Pegue a fixação que o gremista tem pela Libertadores e multiplique por mil. Só assim, terá uma ideia do quanto Los Diablos adoram o campeonato.
Prova disso foi a final da Sul-Americana de 2010, quando, contra o Goiás, o estádio Libertadores de América (que não tem esse nome à toa) quase inundou de tanto que seus “hínchas”choraram, ao ver El Rey de Copas classificado para o torneio, depois de anos no ostracismo do futebol portenho.
Por isso tudo, 2011 deveria ser um ano vital na história da equipe.
Mas não foi.
Do contrário, o Independiente, na atual Libertadores, tá pra lá de Fluminense.
Claro que a tragédia Roja é mais compreensível, levando-se em conta a qualidade do elenco. Mas nada justifica. Ainda mais se considerarmos alguns fatos.
Por exemplo: em seus primeiros jogos no torneio continental, o técnico Antonio El Turco Mohamed fez questão de escalar alguns reservas, priorizando o Clausura argentino, onde o time vinha mal.
E se a medida, aqui no Brasil, já seria motivo de indignação para qualquer torcedor, quem dirá na Argentina, onde é praticamente impossível um time grande cair?
E o que dizer, então, do fato do Independiente ter empatado com o minúsculo Godoy Cruz em um jogo importante da Liberta e ter, algumas semanas depois, enfiado 3 x 0 na mesmíssima equipe?
Agora, depois de tanta pouca vergonha, não adianta chorar. Não adianta Mohamed convocar a torcida aos últimos jogos da equipe.
O que adiantaria, isso sim, seria contratar um técnico um pouco menos retranqueiro e que tivesse mais identificação com o clube.
Nesse sentido, Bochini, que é um deus em Avellaneda, poderia ser uma boa. Ele mesmo já criticou El Turco publicamente.
Outra boa ideia seria segurar o ótimo jovem meia Patito Rodríguez e, ao mesmo tempo, aliar experiência (não idade) ao elenco.
Pena, porém, que agora seja tarde. Pena que o mata-mata da Liberta desse ano vá perder tanto em tradição, sem Boca, sem River e sem Los Diablos.
E pena que, para os fãs do torneio, só reste torcer para outro raio cair em Avellaneda. Por enquanto, só assim para El Rey de Copas se classificar outra vez.