O gladiador e os imperadores
A cada dia que passa, gosto mais de Kléber.
Sempre fui fã de seu jeito de jogar. Seu jeito de não cavar falta, de apanhar e tentar se manter de pé, de lutar o tempo todo.
Acontece que, agora, também sou fã do que o cara faz fora de campo.
Assim que soube das críticas do atacante a Felipão, por exemplo, manifestei meu imediato apoio via-Twitter.
Isso porque o Palmeiras tem uma lamentável tradição de ídolos que, quando perdem um jogo, disparam contra os próprios companheiros.
Kléber foi o primeiro a levantar a voz contra essa canalhice. Corajosamente, foi à imprensa e disse o que precisava ser dito: que Scolari é intocável, que erra e põe a culpa no elenco.
Mas não parou por aí. Agora, o Gladiador apontou sua metralhadora para alvos mais poderosos: os donos do futebol brasileiro.
E nessa empreitada, mais uma vez, tem meu total apoio.
Veja o que ele disse: “Acho ridículo. Teremos de esperar o outro dia para voltar quando o jogo for fora. Uma partida que começa às 21hs, só vai terminar às 23. Ninguém pensa no atleta. Se puderem colocar o jogo com o sol queimando na nossa cabeça, vão colocar”.
Eu assino em baixo. Vou até mais além.
Ninguém pensa no torcedor. Ninguém pensa no trabalhador que acorda às 6 da manhã, trabalha mais de 8 horas, pega ônibus lotado que custa 3,00 R$, chega em casa cansado e tem que esperar a novela terminar pra ver seu time do coração.
E o pior é que sempre foi assim. E assim será enquanto nosso futebol for controlado por uma máfia.
Os nomes dos bois são os mesmos de sempre: Ricardo Teixeira, a vinte anos no comando da CBF; Marcelo Campos Pinto, executivo dos canais GloboSat.
Não por acaso, o segundo tem tudo para suceder o primeiro no trono do Futebol Brasileiro. Em outras palavras: a Globo tem tudo para se apoderar de vez dos nossos campeonatos.
E é difícil acreditar em mudança, ainda mais quando o prefeito de São Paulo, Gilberto Kassab, engaveta projeto de lei que impede jogos de começarem após as 20:00. Ou então, enquanto nossos clubes brigam entre si e negociam sozinhos com uma emissora.
Foi por tudo isso que, falando em gladiadores e imperadores, eu me lembrei de uma história.
Quando o Império Romano entrou em crise, uns 2000 anos atrás, foi adotada a política do “pão e circo para as massas”, afim deconter a ira da população.
Hoje, nós somos a massa. E Ricardo Teixeira já disse, em pronunciamento oficial, que o futebol serve para a desinformação do povo.
Só que, agora, até o acesso ao circo está ficando difícil.
Enfim, temos que aprender com Kléber, dentro e fora de campo: por um lado, apanhar e se manter de pé; por outro, não se calar diante da injustiça.