Retranca crônica
Parc des Princes – Copa do Mundo de 38.
Em plena França ocupada pelos nazistas, a seleção da Suíça apresentava ao mundo o Schweizer Riegel, o famoso “ferrolho suíço”.
A formação inovadora, com 6 zagueiros e alguns “volantes” que faziam gol de cabeça, levaria um bando de artesãos a derrotar a Alemanha por 4×2, para a surpresa de Hitler, que assistia ao jogo da arquibancada.
Só que daquela longínqua tarde de Junho pra cá, como diria o clichê, “o futebol mudou muito”. O conceito de “retranca”, inclusive.
Hoje, jogar com três zagueiros parece crime. Mesmo depois de São Paulo e Inter terem ganho a Libertadores no 3-5-2.
Aí, o que faz a boa e velha criatividade brasileira? Simples: finge que zagueiro é volante.
Já outros mais engenhosos, como Joel Santana, armam o meio-de-campo com quatro marcadores e nenhum meia.
Enfim, idéia é o que não falta.
Talvez por isso, ninguém tem, hoje, coragem de dizer que Muricy Ramalho é um baita de um retranqueiro.
Pegue o jogo contra o América. Tudo bem que era fora de casa, o estádio Azteca é invocado, e tudo o mais.
Mas Muricy disse que o time não teve criatividade. Como poderia ser diferente se Conca jogou sozinho, ao lado de três cabeças-de-área?
Ainda se um deles fosse Mineiro, ou Tinga, até dava. Mas com Valencia, Digão e Diguinho, nem o Zidane.
Mesma coisa com o Palmeiras, que joga com três volantes até contra o Comercial do Piauí.
Não sou a favor de jogar como Kamikaze, mas essa alternativa retranqueira é tão ruim quanto o tal “DNA Santista”. Comercial e Boa Vista estão aí pra não me deixar mentir.
E se tem uma coisa que é tão ruim quanto tudo isso, essa coisa é o “muricismo”: uma prática comum a técnicos que ganham mais de 500 mil por mês e que, quando fracassam, põem a culpa na diretoria que não contrata.
Felipão é adepto dessa filosofia, e a moda tá pegando. Resta saber se ela é à prova de eliminações.