Por dentro do racha no C-13
“Clube dos 13”, “desserção”, “Liga de clubes”, “CBF”… É tanta informação nova, que fica até difícil de acompanhar.
Mas se você ainda não entendeu o que está acontecendo com os clubes brasileiros, não se preocupe: o Futeboteco explica.
A idéia dessa coluna é, justamente, situar você, torcedor, que anda perdido em meio ao jargão dos caóticos bastidores do nosso futebol.
E como, aqui no blog, diferentemente de alguns cartolas, ninguém fica em cima do muro, o post não poderia acabar sem uma boa dose de opinião crítica. Mas deixemos isso pro final. Comecemos com o que originou o conflito todo:
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As cotas de televisão:
Como o próprio nome já diz, o Clube dos 13 é uma entidade fundada em 1987 por 13 clubes do país, quais sendo os 4 grandes do Rio, os 4 grandes de São Paulo, os 2 grandes de Minas, os 2 grandes de Porto-Alegre, mais o Bahia. Ao longo do tempo, porém, outros membros foram incorporados, totalizando, atualmente, 20 clubes, sendo os 13 anteriormente citados, com o acréscimo de Vitória, Sport, Portuguesa, Guarani, Goiás, Atlético Paranaense e Coritiba.
Tal entidade, em teoria, tem, como único objetivo, garantir os interesses políticos e comerciais de seus clubes filiados. Na prática, porém, sabemos que ela também serve para o enriquecimento pessoal de alguns cartolas, como é o caso de Fábio Koff, seu atual presidente eleito.
Isso a parte, fato é que ao longo dos anos o C-13 perdeu muita força e, hoje, sua principal razão de existir é a negociação das cotas que a televisão paga pelo direito de transmitir o Campeonato Brasileiro de futebol.
Essa, que é uma das principais fontes geradoras de receita dos nossos clubes é, nesse momento, o pomo da discórdia.
Isso porque, historicamente, a Rede Globo sempre deteve o privilégio nesse tipo de negociata. Não a toa o Brasileirão sempre foi transmitido pelo canal aberto, pelo Sportv e pelo Pay-per-view, sendo, os dois últimos, braços da rede GloboSat.
E, nesse sentido, o Clube dos 13 cumpriu um papel preponderante em benefício dos nossos clubes: dos menos de 100 milhões anuais que a Globo pagava inicialmente, o valor saltou para atuais 400 milhões – valor este que é proporcionalmente repassado aos clubes do país.
Acontece que tem gente nova na jogada. A Record, interessada em expandir sua área de atuação no campo do esporte, também quer transmitir o Brasileirão.
O que fez o C-13, então? Nada mais, nada menos do que o bom e velho leilão.
Existe, na entidade, uma comissão especialmente destacada para cuidar dos assuntos que envolvem a TV. Tal grupo é composto por Santos, Botafogo e Atlético Mineiro.
Alexandre Kalil, presidente do Galo, é o maior entusiasta da política do “quem der mais, leva”.
A questão é que tal política não é consenso sequer na comissão de negociação do C-13. Isso porque gente interessada em manter os privilégios da Globo se encarregou de rachar o grupo e, de quebra, levou mais gente junto.
E foi aí que se deu o imbróglio.
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A influência da CBF:
Um dos absurdos do futebol brasileiro é o fato dele ser gerido por uma entidade privada.
Isso mesmo: nosso futebol é privatizado.
Não é a toa, afinal, que a CBF, principal entidade do esporte no país, é presidida pelo mesmo personagem há 26 anos.
Isso porque instituições privadas, ao contrário de instituições públicas, têm estatutos próprios e não necessariamente são obrigadas a realizar eleições democráticas.
Ou seja, o interesse do torcedor brasileiro, necessariamente, fica em segundo plano quando o assunto é o interesse do presidente da CBF – no caso, Ricardo Teixeira.
E, nesse caso, os interesses são dos mais escusos.
Se você acompanha o Futeboteco, por exemplo, deve se lembrar da eleição do Clube dos 13, realizada no ano passado.
Na ocasião, o atual presidente eleito Fábio Koff disputava o cargo com Kléber Leite, cujo filho negocia contratos de transmissão da Rede Globo.
Ou seja: se Leite ganhasse, a Globo estaria no comando da entidade com quem negociaria seus contratos de transmissão. Em outras palavras, negociaria com ela mesma.
Claro que isso não seria de interesse dos clubes, mas, como você deve se lembrar, não foram poucos os que votaram contra Fábio Koff.
É que, apesar de parecer um tiro no pé, esses votos tinham lá seus (nebulosos) motivos. Motivos que têm a ver, basicamente, com a entrada de Ricardo Teixeira na jogada.
Como mostrou a última charge do Barão, o rei da CBF tem muito a oferecer a quem vota em seu candidato.
E claro que seu candidato era Kléber Leite, uma vez que Teixeira tem ligações muito próximas com a Rede Globo, apesar de ninguém saber quem lucra o quê com tais ligações.
Enfim, a eleição foi uma farra.
Pro Corinthians, foi oferecido o Itaquerão, mais a viagem de Andrés Sánchez à África do Sul, como chefe de delegação.
Pro Coritiba foi a atenuação da pena do fechamento do Couto Pereira pela invasão de torcedores no dia D do rebaixamento, em 2009.
Para o Palmeiras, foi o pagamento de algumas dívidas contraídas durante a gestão Belluzzo.
Enfim, todo mundo que votou em Kléber Leite teve seus “motivos”.
Só que Koff venceu, graças a uma aliança encabeçada por São Paulo, Flamengo, Fluminense e Atlético Mineiro.
E os clubes permaneceram rachados entre quem era pró e contra a dupla Globo-CBF.
Pois agora, eis que até quem era contra virou pró, e a implosão do C-13 começou.
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O racha:
O Flamengo, presidido pela deputada tucana Patrícia Amorim, quer se reaproximar da CBF, temendo retaliações como as que o São Paulo recebeu ao ter o Morumbi rechaçado como sede da Copa-2014.
Além disso, Patrícia não acredita mais em seus aliados contra Kléber Leite, uma vez que Juvenal Juvêncio (presidente do São Paulo) aceitou de bom grado o cavalo de Tróia da CBF: a famosa Taça das Bolinhas, também reivindicada pelo clube da Gávea.
O que fez, então, o Rubro-Negro? Simples: mudou de lado. E, com isso, puxou a fila dos clubes cariocas que declararam, por meio de suas assessorias de imprensa, que vão negociar com a televisão por fora do C-13.
O Corinthians, cuja presidência se confunde entre Andrés Sánchez e Ricardo Teixeira, obviamente entrou na dança, assim como Coritiba, Palmeiras, Cruzeiro, Goiás, Grêmio, Portuguesa e Vitória.
Formou-se, então, um grupo paralelo ao C-13, disposto a negociar com a Globo independentemente de quanto a Record ofereça, por entender que, assim fazendo, o valor das cotas de TV pode ser maior.
Além disso, toda essa turma já percebeu que ir contra os donos do futebol do país pode ser muito arriscado.
Só que, se tais clubes realmente decidirem sair fora da entidade, pode ser o fim do C-13.
O fim do C-13 e o início de uma era em que a Globo, definitivamente, não tem mais concorrência.
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As dívidas:
Tal qual um soldado entrincheirado, Fábio Koff ainda tem uma última cartada para evitar a derrocada da entidade que preside.
Veja: quando você quer fechar uma conta no banco, a primeira coisa a fazer é sanar suas dívidas com o mesmo, certo?
Com o Clube dos 13 não é diferente.
E, com suas famigeradas más administrações, não foram poucos os clubes que, ao longo da história, pediram dinheiro à entidade.
Calcula-se, por exemplo, que os quatro cariocas, juntos, devem, ao todo, 60 milhões.
O Corinthians pós-MSI também não fica atrás.
Por isso, se tais clubes quiserem, realmente, dar uma banana para Fábio Koff, terão, primeiro, que pagar o que devem. E é difícil de imaginar que isso aconteça.
Além disso, o C-13 já lançou uma nota dizendo que o Corinthians, clube que puxa a debandada, ainda pertence à entidade. Só aguardando os próximos capítulos.
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Liga de clubes:
Em 1999, por exemplo, a CBF ficou impedida de organizar o Brasileirão em função de um imbróglio judicial que envolvia o atacante Sandro Hiroshi, então escalado irregularmente pelo São Paulo.
Nesse ano, a organização do campeonato coube, então, ao Clube dos 13. E nasceu a João Havelange.
Em 82, o polêmico ano em que Flamengo e Sport foram campeões, aconteceu um processo diferente, mas nem tanto.
Na ocasião, alguns clubes decidiram criar um outro torneio, independente da CBF. Quem faturou essa empreitada foi o Flamengo enquanto a outra, a “oficial”, foi vencida pelo Sport.
Enfim, muita gente enxerga, nesse tipo de coisa, uma forma de criar um novo campeonato, livre da influência da CBF e capaz de pôr ordem até mesmo no nosso calendário maluco, que só privilegia os europeus que contratam nossos maiores craques.
E há quem diga que, com grandes clubes pinotando do C-13 para negociar direitos de transmissão separadamente, pode acontecer, finalmente, a criação da chamada “Liga de Clubes”.
Seria uma boa idéia, não fosse o fato de que todos os desertores, sem exceção, se ajoelham na frente de Ricardo Teixeira.
Resumindo: se o que se quer é independência da CBF, a criação da Liga de Clubes não pode se dar agora, afinal, nas atuais condições, ela seria apenas mais um instrumento de dominação dos clubes por parte da própria CBF.
Mas há quem acredite que pode sair do papel. Mais uma vez, só aguardando para saber.
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Opinião:
Não há santo nessa história, até porque a Record é pentecostal, e quem acredita em santo é a Igreja Católica.
E o C-13 está entre a cruz e a espada, no que se refere à própria ética.
Isso porque, dos dois lados – Record e Globo – a sujeira corre solta.
Primeiro porque o dinheiro da Record é proveniente da exploração de fiéis de uma igreja.
Segundo porque fechar com a Globo não significa outra coisa senão se dobrar diante de Ricardo Teixeira e assinar o atestado de que os clubes já não podem fazer nada se, por exemplo, a CBF quiser ccontinuar lucrando às custas deles mesmos, inclusive por meio da compra de votos tradicionalmente organizada por Teixeira em vésperas de eleição.
Resumo da ópera: sou sempre pela vontade do torcedor. E, como o que o torcedor quer é ver seu clube endinheirado e bem provido, claro que o melhor é que leve, quem oferecer mais.
Sou a favor da idéia de Kalil de exigir o valor em envelopes fechados, sendo vencedor quem apresentar o envelope mais gordo.
É isso. Se a Globo quer, que pague, e pague mais do que os 400 mil que paga atualmente. Nada mais justo.
E que os clubes fiquem, todos, do lado do C-13. A outra alternativa, definitivamente, não é boa.