Pelo bem dos clássicos
Sou um dos favoráveis a repensar a existência dos estaduais no nosso futebol.
Concordo com todos os argumentos típicos de quem defende sua extinção, de forma a aliviar o congestionado calendário nacional.
No entanto, os dois clássicos desse último domingo – mais precisamente o do RJ -, fizeram com que eu considerasse seriamente a sugestão dum amigo meu para solucionar tal problemática.
Um certo dia, na faculdade, Alexandre, um ativista nato das rivalidades futebolísticas, elogiou o nível dos clássicos cariocas, agregando a qualidade deles à dinâmica fórmula de disputa, muito semelhante aos campeonatos nacionais no resto da América do Sul, dividos entre Apertura e Clausura. No Cariocão; Taça Guanabara, Taça Rio, e a finalíssima entre os dois campeões caso sejam diferentes.
Alê, como forma de preservar seu apreço pela emulação esportiva, defende ferozmente a manutenção dos estaduais.
E não é que depois de ver tantos clássicos excelentes no Rio, com partidas cheias de emoção, rivalidade, alternativas de jogo e bom público (ontem, 26.684 mil pagantes; Flu 2×3 Bota, 16.759 presentes; Vasco 1×2 Fla, 15.356), não consigo ainda acreditar neles?
Fla e Bota fizeram, neste domingão, uma espetacular semifinal.
E o fato do Boa Vista ter ido a outra final nada tem a ver com isso.
Mérito do time de Alfredo Lourenço.
Demérito do Flu, que era e sempre será favorito quando este for o confronto.
Demérito do Vasco, cuja fraqueza é tamanha a ponto de nem entre os quatro conseguir ficar.
Acima, disse que concordo com todos os argumentos dos não favoráveis aos estaduais.
Sim, é a mais pura verdade. Contudo, existe um argumento oposicionista do qual também comungo.
Se tiver um bem que os estaduais ainda fazem, não é mais – infelizmente – aquele sustentado pelo batido jargão de levar os grandes às cidades interioranas, mas, sim, o cultivo tão necessário das rivalidades históricas do futebol.
Como se pode constatar, tanto no Rio de Janeiro e do Sul, como em São Paulo e Minas, os estádios dos pequenos estão sempre às moscas pra receber as principais agremiações.
E isso não é, também, privilégio desse tipo de torneio.
Dependendo da partida, no Brasileirão, igualmente se presencia meia dúzia de gatos pingados nas arquibancadas.
Claro, em contrapartida, as equipes do nordeste vivem batendo recorde de público. Os fiéis do Corinthians se defenderão alegando estarem presentes até em duelo de casados x solteiros. Os tricolores paulistas, em Libertadores, sempre lotarão o Morumbi. E a ânsia por conquistar tal taça será a mesma por qualquer que seja a torcida quando esta for a competição a se jogar.
Ainda assim, teremos arenas vazias. Bilheteria fraca e os ruídos do campo como a única trilha-sonora de algumas partidas.
O motivo da ausência do torcedor nos estádios é bem mais profundo, e não depende tão-somente de uma dada competição ou fórmula de disputa.
Tem sim, tudo a ver com a violência que afasta um público apaixonado de sua paixão.
E, como já explicitei, se há algum sentido na existência do Paulistão, do Cariocão, do Gauchão, do Mineirão e de todos os demais estaduais, é o fato de nutrirem a rivalidade entre os grandes clubes, fazendo com que o torcedor vá, sim, assistir ao clássico!
E não a Prudente (ou Barueri?) x Corinthians, Macaé x Fluminense, Americana (ou Guaratinguetá?) x Palmeiras ou Resende x Flamengo…
É exatamente por essa razão – exclusivamente por ela – que a fórmula rápida do campeonato do Rio, com duas semi e três finais, dá sentido à sua existência.
É, igualmente por isso, que a fórmula “cabriolesca” recém-formulada pela Federação Paulista deve, o quanto antes, ser dizimada:
Por não priorizar a rivalidade entre as agremiações.
Por entupir o Paulistinha de partidas sem fundamento, tudo em pró de uma fase classificatória que, num segundo momento, é invalidada quando se conclui a impossibilidade de não terminar entre os oito melhores.
Afinal, devido ao renascimento corintiano em cima do todo poderoso Santos, e a emoção da indecisão dos pênaltis entre rubro-negros e alvi-negros, só ofertada pela imensidão dos clássicos, que, hoje, repenso sobre a importância dos estaduais.