O jogador de outro jogo
Na sexta-feira de renúncia de Mubarak, pouco se agitou o noticiário esportivo.
Fiquei, então, pensando sobre o que escrever.
Roberto Carlos e sua possível saída do Corinthians?
Adriano e sua iminente despedida da Roma?
De Dagoberto, do São Paulo?
Não, não…
Já me cansei de falar sobre a indisciplina alheia. No caso de RC, por parte da Fiel torcida. No de Dagol, por parte de ambos: jogador e técnico. No de Adriano, sozinho. Pra variar…
Foi quando assistindo a programação esportiva da tarde – que quando não falava da renúncia do ditador egípcio, destacava uma suposta oferta do Barcelona para ter Neymar – que encontrei o tema do meu post.
A especulação é que os catalões estariam dispostos a desembolsar uma bagatela de 30 milhões de euros, mais o passe em definitivo de Keirrison e do zagueiro Henrique, para tirar o craque da Vila.
Ganso, também estaria na mira.
Após assistir a tal reportagem, buscando programação melhor, “zapiei” para o Sportv (já que estou sem ESPN Brasil aqui em casa).
O programa que passava era o Arena Sportv, nessa oportunidade, com dois grandes convidados diretamente de Minas: O Rei-Reinaldo e Raúl Plasman, os quais aqueciam os tamborins para o clássico de amanhã.
No entanto, o que me chamou à atenção foi uma colocação do legendário Alberto Helena Júnior (O Dedo de Deus, intitularia Mílton Neves), em que, baseado no football dos norte-americanos, questionou o porquê do nosso futebol não possuir um treinador específico para cada posição, como acontece com a de goleiro. Seria uma forma de prezar pela condição técnica exigida em cada setor.
Pensando nisso, e na impressão geral que se tem de Neymar quando disputa o Sul-Americano sub-20, parecendo jogar um jogo totalmente diferente dos demais, é possível constatar a gritante ausência de fundamentos básicos nos jogadores atuais.
Primeiro porque não são jogadores, mas sim atletas. São preparados – na linha de produção massiva das escolhinhas – para isso.
E é exatamente por conta dessa lógica que – evidente, tornou o futebol mais profissional – gozamos dum astronômico déficit na qualidade técnica.
A bem da verdade é que muitos dos nossos jogadores não perdem em nada para qualquer maratonista que almeje ganhar a São Silvestre.
A preocupação do treinador (que com o passar dos tempos virou técnico e perfeitamente poderia se chamado de “tático”) é em vencer, conquistar títulos e, sobretudo, assegurar seu emprego na maluca gangorra a que estão submetidos.
Logo, retrancas das mais intransponíveis encabeçam o sistema tático das grandes equipes, as quais, por sua vez, faturam canecos, porém não encantam.
Esse é preço da profissionalização do esporte que cada vez mais deixa de ser espetáculo para se transformar num jogo de xadrez.
Já diria Muricy, o técnico mais campeão dessa última década:
“Quem quiser assistir espetáculo, que vá ao circo!”
Não à toa o Barcelona não medirá esforços para ter Neymar, uma jóia raríssima meio a uma infinidade de bijuterias.
E assim o prodígio continuará jogando um jogo diferente dos demais…
Isso porque ele ainda é jogador, enquanto todos os outros são atletas.
O pior é que a culpa não é dele e nem de quem joga com ele.
Muito menos de Muricy.